O estudo “The Church and the Overthrow of the Brazilian Monarchy”, escrito por George C. A. Boehrer e publicado na Hispanic American Historical Review em 1968, oferece uma visão detalhada sobre a relação entre a Igreja Católica e a monarquia no Brasil do século XIX, especialmente no contexto da transição política que resultou na proclamação da República em 1889. Boehrer explora a complexa dinâmica entre o trono e o altar, revelando como tensões entre a Igreja e o Estado contribuíram para a derrocada do regime monárquico.
O Contexto Histórico
Durante o Império do Brasil (1822-1889), a Igreja Católica ocupava uma posição privilegiada, sendo a religião oficial do Estado. No entanto, essa relação íntima entre Igreja e monarquia foi marcada por conflitos que, ao longo do tempo, tornaram-se insustentáveis. O estudo de Boehrer detalha as tensões que surgiram principalmente devido ao controle do Estado sobre os assuntos religiosos e à introdução de ideias liberais e republicanas, que acabaram desestabilizando a autoridade do imperador e a influência da Igreja.
As Tensões entre a Igreja e o Império
Boehrer argumenta que, embora a Igreja tivesse inicialmente uma posição de destaque no Império, a monarquia brasileira adotou uma política de padroado, que dava ao imperador a autoridade de nomear bispos e supervisionar muitos dos assuntos eclesiásticos. Essa ingerência do Estado nos assuntos da Igreja provocou tensões crescentes, principalmente durante o reinado de D. Pedro II.
Um dos episódios mais significativos tratados por Boehrer é a Questão Religiosa da década de 1870, quando D. Pedro II entrou em conflito com membros do clero brasileiro, especialmente com bispos que desafiavam o poder imperial ao defender a independência da Igreja em questões como a disciplina dos maçons, que na época tinham forte presença nas esferas políticas e sociais. A prisão de bispos que resistiram às ordens imperiais alimentou uma crise entre o governo e a Igreja, enfraquecendo o apoio da instituição ao regime monárquico.
A Influência de Correntes Republicanas e o Papel da Igreja
À medida que o Brasil caminhava para o final do século XIX, correntes republicanas e positivistas começaram a ganhar força, influenciando as elites intelectuais e políticas. Boehrer aponta que o crescente apoio à separação entre Igreja e Estado, inspirado por essas correntes, encontrou terreno fértil em uma Igreja que já se sentia incomodada com a interferência estatal. Essas ideias republicanas, que promoviam a laicização do governo, encontraram respaldo em membros do clero que também desejavam maior liberdade e autonomia.
O estudo sugere que a monarquia, cada vez mais isolada, perdeu o apoio da Igreja Católica. No momento decisivo da proclamação da República, em 1889, a Igreja não interveio para sustentar o regime monárquico, fato que Boehrer considera fundamental para a derrubada do império. A passividade ou até mesmo o apoio de alguns clérigos à causa republicana refletiu o desgaste da aliança entre a Igreja e a Coroa.
Conclusão
Boehrer conclui que, apesar de a Igreja ter sido uma das principais instituições a sustentar o Império do Brasil, as tensões que se acumularam ao longo das décadas entre o poder imperial eclesiástico acabaram minando essa relação. O estudo de Boehrer destaca a importância da Questão Religiosa e a mudança de mentalidade dentro da Igreja como fatores chave para a derrubada da monarquia. A proclamação da República, em 1889, representou não apenas o fim do regime monárquico, mas também o início de uma nova era na relação entre Igreja e Estado no Brasil, marcada pela separação dessas duas esferas de poder.
O trabalho de George C. A. Boehrer contribui significativamente para a compreensão desse período crítico da história brasileira, oferecendo uma análise profunda das interações entre religião e política que moldaram o destino do país.
Você poderá ler o trabalho original publicado em https://read.dukeupress.edu/hahr/article/48/3/380/157612/The-Church-and-the-Overthrow-of-the-Brazilian ou acessar a tradução elaborada pelo nosso editor https://monarquista.com.br/a-igreja-e-a-queda-da-monarquia-brasileira/