Pensamentos de um príncipe

Descendente da família real brasileira visita Diário da Manhã e compartilha seu posicionamento sobre futuro da economia e desenvolvimento agropecuário no País


Diário da Manhã, 07/08/2013.
Rafaela Toledo

O Diário da Manhã recebe a visita de um dos descendentes da família real brasileira, o príncipe Dom Bertrand Maria José Pio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Orleans e Bragança e Wittelsbach, de 72 anos, que veio a Goiânia para lançar seu livro, ‘Psicose Ambientalista’, em livraria no Shopping Flamboyant.

Entre os temas abordados no livro, que já vendeu 19 mil cópias, o príncipe critica a tendência de ecoterrorismo no Brasil, ameaças ao direito de propriedade e teorias de conspiração contra o desenvolvimento industrial brasileiro, no qual classifica como uma ‘absurda paranóia ambiental’.

Trineto de Dom Pedro II e bisneto da princesa Isabel, Dom Bertrand nasceu em Mandelieu, na Riviera Francesa, durante o período de exílio da família real brasileira, no entanto, ele é considerado nato e desfruta de todos os direitos concedidos por sua condição. Terceiro de doze filhos, sua família mudou-se para o Rio de Janeiro quando tinha quatro anos de idade, e logo em seguida seu pai comprou uma fazenda em Jacarezinho, no Paraná, onde plantava café e criava gado.

Advogado formado pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, da USP, Dom Bertrand coordena e é porta-voz do movimento Paz no Campo. Por essa condição, percorre o Brasil fazendo conferências para produtores rurais e empresários, em defesa da propriedade privada e da livre iniciativa.

O príncipe nunca se casou, não teve filhos e atualmente mora em uma residência de dois andares, com seu irmão Dom Luiz Gastão Maria José Pio Miguel Gabriel Raphael Gonzaga de Orleans e Bragança e Wittelsbach (o primeiro na linha de sucessão). Confira a entrevista que Dom Bertrand concedeu ao DM.

Diário da Manhã (DM) – Qual o objetivo de criar o blog e o livro?

Dom Bertrand – O Paz do Campo não é apenas um blog, é um movimento que visa exatamente, de um lado dar segurança jurídica aos agricultores, e por outro lado defendê-los contra uma investida que existe da parte de toda uma legislação socialista no Brasil. Uma investida que visa aos poucos corroer o direito à propriedade. Então se formos ver a legislação, na legislação de reforma agrária, na legislação da questão quilombola, a legislação da questão do trabalho escravo, a questão indigenista, a questão ambiental são os meios de corroer, o denominador comum de toda essa investida é o direito à propriedade. Nós afirmamos que o direito à propriedade é fundamental porque é a garantia da liberdade. Se eu não sou dono do fruto do meu trabalho, isso é trabalho escravo.

DM – O senhor acha que o direito à propriedade tem sido ameaçado?

Dom Bertrand – Continuamente ameaçado. Por exemplo: reforma agrária. Porque segundo a constituição está decretada a reforma agrária e estão isentos os que atingirem os índices de produção determinados pelo Estado, cumprir a função social e respeitar o meio ambiente. Com a legislação atual praticamente todo mundo, de um jeito ou de outro, pode ter suas terras desapropriadas. Para distribuir em pequenos lotes, no qual o beneficiário da reforma agrária não recebe o direito à propriedade, recebe a posse. Com a condição de estar inscrita na cooperativa do Estado e se não plantar o que o Estado quer, ele perde o seu lote. Esse sistema em que a pessoa tem apenas a posse e está obrigada a plantar o que o Estado determina foi exatamente o que fracassou espetacularmente na União Soviética, a ponto da própria US derrubou a lei reforma agrária na Rússia reconhecendo que foi a causa da morte de fome de milhões de pessoas.

DM – O que o senhor acha sobre a concentração fundiária no Brasil?

Dom Bertrand – Não existe concentração fundiária no Brasil. Existem pequenas médias e grandes propriedades de acordo com a capacidade dos agricultores. Os Estados Unidos, um pouco maior que o Brasil, tem um milhão e 200 mil propriedades rurais, no Brasil, cinco milhões e quinhentos mil. Existe algum latifúndio aqui na região? Não existe. Antigamente existia, mas com o tempo foi se dividindo. Enquanto aqui era fronteira agrícola era normal ter propriedades maiores. Ninguém sai do Rio Grande do Sul para o Piauí para cultivar 50 hectares. Eles vão para o Piauí porque lá a terra é barata. Eles vendem uma propriedade de 100 hectares e compram uma de cinco mil hectares no Piauí e abrem uma nova fronteira agrícola. Eu tenho visto na internet, na televisão o imenso progresso da gauchada lá. Assim se faz o progresso. Assim se faz o desenvolvimento de um País.

DM – O que há por traz disso?

Dom Bertrand – O que há por traz disso é uma questão ideológica. Intenção clara de fazer do Brasil um país socialista. No início do governo do Lula, os ministérios disseram claramente que o objetivo era fazer do Brasil um país socialista. Quer dizer o Estado tende a regulamentar tudo. A questão ambiental, hoje em dia ninguém mais tem segurança jurídica porque vem um antropólogo, encontra cemitério de índios, cancela os títulos de propriedade quando no Brasil todo mundo tem um pouco de sangue indígena. Aliás uma das melhores coisas que aconteceram na nossa história foi a miscigenação. Agora, os índios já têm 13% do território nacional, agora dizem que é 1 milhão e 200 mil índios, antigamente eram 200 mil. Não sei como isso é possível do dia para a noite. Na realidade são massa de manobra do pessoal da Funai.

DM – De onde o senhor acredita vir esses números?

Dom Bertrand – Eles inventaram. Basta ver as manifestações dos índios. Tem índio de cabelo enrolado, de olho de cor. Todo mundo sabe que índio tem cabelo liso. Ele pode até ter um pouco de índio mas todo brasileiro tem.

DM – Em sua opinião, o que ocasionou o êxodo rural no Brasil?

Dom Bertrand – A culpa do êxodo rural é da legislação trabalhista, pela qual os fazendeiros não podiam mais ter empregados na fazenda. Porque era tanto problema nessas questões trabalhistas que era melhor contratar serviços dos boias-frias, foi quando eles surgiram. Ao invés de manter a estrutura original das fazendas, fundadas na estrutura familiar, em que cada um tinha sua terrinha, os colonos, podia ter suas criações, mas tinham possibilidade de uma vida muito mais sadia. Do que o boia-fria, que vive ao redor da cidade, vai pro campo trabalhar, volta à noite, não tem a própria casa. A causa disso foi essa legislação socialista. Quando havia a estrutura sadiamente familiar, em que as fazendas eram grandes famílias, em que o patrão (vem de pai) protegia seus empregados havia uma harmonia muito maior no campo.

DM – Qual o meio de reverter o êxodo rural?

Dom Bertrand – Reforma agrária não, porque eles também não ficam na terra. O meio seria simplificar ao máximo a legislação brasileira. Simplificar a questão trabalhista, ambientalista, a questão dos índios e então reverter este processo de socialização que existe no Brasil.

DM – O senhor tem um ponto de vista muito crítico sobre a legislação brasileira. Por quê?

Dom Bertrand – Quanto maior o número de leis, pior a coisa pública. É o que acontece no Brasil, quanto mais legisla pior fica. Porque a pessoa se sente amarrada numa camisa de forças. Psicologicamente, a pessoa está amarrada. Tem os pardais, tem o CPF no cheque, tem os controles do cartão de crédito. O governo sabe absolutamente tudo o que a gente faz.

DM – O que o senhor acha da nossa legislação?

Dom Bertrand – Absolutamente absurda. Tem um fundo ideológico em que acredita-se que o homem é o grande predador da natureza. Uma falsa solução para um problema inexistente. Quem lê os jornais acha que estamos cortando a última árvore da Amazônia. Segundo o estudo da Embrapa, o Brasil tem 86% da floresta Amazônica com sua vegetação original. O Brasil, no todo, tem 69% da vegetação natural intacta. O mais bem preservado do planeta. Mídia dá uma visão completamente falsa sem nenhum fundamento científico. Aquecimento global, polos derretendo. Uma loucura, uma paranóia.

DM – Pra onde essa paranóia levaria a sociedade?

Dom Bertrand – Para uma vida tribal. O que eles querem é voltar para tribo. Modelo deles é a tribo indígena num momento que os próprios índios dizem: nós não queremos viver num jardim zoológico humano, nós queremos progresso, nós queremos civilização. Na realidade são os vermelhos que ficaram verdes. É uma questão ideológica. Eles fracassaram na União Soviética, no leste europeu, mas eles tem uma ideologia igualitária. Onde todos sejam iguais. O igualitarismo não corresponde a natureza humana. Nós não somos a favor da igualdade. Isso é uma estupidez. Somos iguais na nossa essência. Somos todos filhos de Deus, animais racionais. A beleza da sociedade está nessas diferenças. Devem ser proporcionais, harmônicas, hierarquizadas e complementares. São as 4 características complementares. Exatamente como numa sinfonia. Se a igualdade fosse um padrão de perfeição, qual seria a música mais bonita? A sirene da ambulância. Uma nota só. A beleza da sociedade está exatamente nessa magnífica complementaridade das vocações de diversas pessoas.

DM – O senhor não concorda que a evolução do homem influenciou os rumos do planeta em sua preservação ambiental?

Dom Bertrand – No livro tem dados dos maiores cientistas da atualidade que desmentem a questão do aquecimento global, que mostra a questão dos pólos. Agora dizem que o pólo norte está derretendo. De fato, nestes últimos tempos derreteu um pouco, mas nas décadas entre 1810 e 1835, quando quase não havia poluição, o pólo norte praticamente derreteu. O pólo norte é uma casquinha de ovo que tem no topo do planeta onde os submarinos estão perfurando para colocar a bandeirinha exatamente no pólo. O Polo Norte tem no máximo 2% do gelo mundial. O Polo Sul tem 95%. E este último aumentou nos últimos anos 600 mil Km.

DM – Então a ação humana não está influenciando a natureza?

Dom Bertrand – O homem é muito pequeno para achar que vai intervir na natureza. Um exemplo é a Groenlândia. Na idade média, era toda verde. Observe o nome: Greenland, terra verde. Havia agricultura, pecuária, hoje é uma ilha gelada. Duas erupções vulcânicas lançam mais dióxido de enxofre na atmosfera do que toda a revolução industrial desde o século 19 até hoje, contando inclusive com os carros. É uma paranóia. Uma psicose. A água do mundo não vai acabar. É um ciclo.

DM – O senhor acha que o processo de transformação natural é o que está acontecendo?

Dom Bertrand – Sim. É da natureza. Processo natural, independente do homem. E é cíclico. Agora estamos num período de resfriamento. Não é o homem que faz isso. É a natureza.

DM – O senhor é conhecido no Brasil por defender o retorno do sistema monárquico no Brasil. Como o senhor fundamenta seu discurso?

Dom Bertrand – Eu sustento que a monarquia é o regime que mais se aproxima da natureza humana. Mesma estrutura da família: o pai é rei, a mãe é rainha, os filhos são herdeiros. Numa empresa, o diretor é um pequeno rei. Imagine que houvesse sempre eleições gerais a cada quatro anos, um caos. A empresa funciona porque tem um dono que é um ponto coordenativo do conjunto. Tem uma visão a longo prazo, intuição pra isso, vocação. Numa fazenda, o fazendeiro também é um pequeno monarca. Os resultados: Pega o ranking do IDH do mundo. Entre as dez primeiras nações, de cinco a sete são monarquias. Das 25 nações mais ricas do mundo, 18 são monarquias. Porque na monarquia, os chefes de estado, tem em vista não as próximas eleições, mas as próximas gerações. Na república, só importam as próximas eleições.

DM – E o que temos hoje?

Dom Bertrand – Hoje, o que nós temos é exatamente o contrário. Temos um governo da união hipertrofiado, que sangra os Estados, que sacrifica os municípios, escorcha as famílias. Ou se reverte este quadro ou a crise só tende a crescer. Qual o problema do Brasil? Um dos Países mais ricos do mundo? Com uma das maiores capacidades agrícolas, futuro promissor? Um Estado hipertrofiado, com uma das cargas tributárias mais altas do mundo, com benefícios que não são dos melhores, bem abaixo da média, benefícios sociais. Se você ficar doente não pode contar com SUS.

DM – Como o senhor imagina que seria o Brasil se houvesse continuado o sistema monárquico?

Dom Bertrand – O Brasil seria certamente um dos Países mais ricos do mundo. Durante a monarquia o Brasil estava no topo do progresso. Fomos o 2º país do mundo a ter rede telefônica. Fomos o 2º a ter selo postal. Primeiro cabo submarino que ligava o nosso continente à Europa era nosso. Tínhamos uma das maiores redes ferroviárias do mundo. Nossa moeda era estável. Nossa moeda valia 27 pens, que é uma unidade da libra esterlina. No fim da monarquia, em 40 anos a nossa moeda estava valendo 27 pens e três quartos. Nossa moeda nunca variou. Dizem que a moeda é o espelho de um regime. Nós tínhamos um regime muito mais democrático que hoje em dia. Um sistema de votos distritais, com eleições muito mais baratas, e as eleições se davam religiosamente de acordo com os calendários eleitorais. Todo o segundo reinado não houve uma alteração nos calendários eleitorais, não houve uma vez declaração de estado de sítio, qualquer tipo de censura, qualquer tipo de limitação dos direitos. E não há ninguém que faça acusação de qualquer tipo de falcatrua do imperador.

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