Proclamado a 16 de dezembro de 1815, o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves teve como titular a então Rainha D. Maria I. Viria ela a falecer em março do ano seguinte e ser sucedida no Trono pelo filho, D. João VI, e este, já no Brasil proclamado Império, por D. Pedro I. Assim, ainda que fugazmente, foi ela nossa primeira soberana.
Mais velha das quatro filhas de El-Rei D. José I e da Rainha D. Mariana Vitória de Bourbon, D. Maria Francisca nasceu em Lisboa a 17 de dezembro de 1734, ascendendo ao Trono pela morte do pai como D. Maria I de Portugal, Rainha Fidelíssima, em 13 de maio de 1777. Casara-se em 1760 com o tio paterno, infante D. Pedro, que se tornaria D. Pedro III, jure uxoris, nascendo dessa união seis filhos.
Ainda princesa foi descrita como de “índole muito doce e um caráter piedoso, humano e afável”. E, já Rainha, “senhora de nobre e majestosa figura, conciliava admiravelmente a distinção e a bondade. Parecia nascida para mandar, mas ao mesmo tempo para fazer aquela autoridade mais querida do que temida”.
Profundamente religiosa, estimulou as devoções à Imaculada Conceição e ao Sagrado Coração de Jesus, fazendo edificar em honra deste, em Lisboa, a magnífica Basílica da Estrela, na qual seriam depositados seus restos mortais. O cognome A Piedosa a refletiu plenamente.
O reinado de D. Maria I sucedeu àquele marcado pela influência do Marquês de Pombal, poderoso Ministro de D. José I, que pretendeu reformar Portugal e conseguiu dividi-lo quase irremediavelmente. Aclamada com júbilo e esperança, reavivou os valores e costumes tradicionais do Reino, numa inversão de rumos a que a população chamou pitorescamente “a viradeira”. Reestabeleceu, no melhor estilo da monarquia portuguesa, as audiências públicas que seu pai havia suprimido.
Culta, afeita aos assuntos de Estado, promoveu com ilustres colaboradores um governo fecundo em realizações: nova concordata com a Santa Sé, tratados de comércio, missões científicas ao Brasil e outros domínios, fortalecimento militar, melhora nas contas públicas, criação da Academia Real das Ciências de Lisboa, da Real Biblioteca Pública da Corte, da Academia Real de Marinha, da Casa Pia de Lisboa.
Em relação ao Brasil destacaram-se o levantamento científico da Amazônia e a criação de Jardins Botânicos nas principais cidades, os tratados limítrofes de Santo Ildefonso e do Pardo e a comutação, em exílio, da pena de morte dos doze — exceto um — conjurados da Inconfidência Mineira.
No início de 1792 manifestou-se sua doença mental. O príncipe D. João assumiu desde logo os atos de governo, mas só em 1799 tomaria o título de Regente. D. Maria, reclusa e alternando altos e baixos na enfermidade, continuaria cercada do respeito e carinho gerais em todo Portugal e depois no Brasil.
Foi ela a única, dentre nossos soberanos, a morrer em solo brasileiro, o que ocorreu no Rio de Janeiro no dia 20 de março de 1816. Os funerais, no próprio Paço Real, foram soleníssimos e duraram três dias.