Ação Monárquica Dom Bertrand

Dom Bertrand em entrevista para a R7

Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

R7 – Como seria a restauração da monarquia no Brasil?

Don Bertrand de Orleans e Bragança – Essa restauração vem ao encontro de uma manifestação da vontade popular do povo brasileiro. Um pouco como foi no ano passado as mudanças políticas que tivemos, resultado sobretudo das grandes manifestações nas ruas. O interessante nessas manifestações é que em toda a parte os brasileiros bradavam “Minha bandeira é verde e amarela e jamais será vermelha” e “Quero meu Brasil de volta”.

Nesse “Quero meu Brasil de volta” há algo que está na memória histórica do povo brasileiro, na memória genética do povo brasileiro, que tem saudade de um período histórico em que o Brasil realmente deu certo, que foi o período do Império, e que está cansado do caos republicano. Hoje, não há nenhum brasileiro que diga de boca cheia que a República deu certo. Pelo contrário, nós estamos desde 1889 sofrendo as consequências da República.

Por que essa insatisfação é interpretada como uma vontade pela monarquia?

Interpreto isso como uma coisa inconsciente, um primeiro passo no sentido de voltar àquilo que está na memória histórica e na memória genética do povo brasileiro. O que temos visto é que o movimento monárquico só tem crescido nos últimos anos. Nessas manifestações havia bandeiras do Brasil nos quatro cantos do Brasil, e havia bandeiras do PT sendo enxotadas das manifestações. E apareceram muitas bandeiras do Império, então é algo que está renascendo no Brasil.

Existe alguma pesquisa que mostra o crescimento desse interesse?

Um par de pesquisas feitas recentemente, pelo Terra e por outros órgãos, mostraram que a maioria se manifestava pela restauração da monarquia. São várias pesquisas feitas pela internet. Claro que essas pesquisas não representam toda uma realidade, mas sim uma parte muito significativa da realidade brasileira.

Quando a monarquia deixou o poder, foi uma convenção da classe burguesa da época…

Foi um golpe de estado de uma minoria das Forças Armadas que num primeiro momento nem foi a favor da República. O marechal Deodoro da Fonseca, no 15 de novembro, ele não bradou “Viva a República”, ele bradou “Viva o Imperador”. Foi no entardecer do 15 de novembro que eles conseguiram levar o marechal para assinar a proclamação da República. Ele não era republicano.

Mas naquele momento histórico, sejam os monarquistas e os republicanos, não havia uma preocupação com a população das classes mais baixas do Brasil, que vivia num contexto de ausência de direitos…

Pelo contrário. O Brasil tinha muito mais harmonia social naquele tempo do que hoje em dia. As favelas, e está provado historicamente, é um fenômeno republicano. Não havia favelas.

Mas a população era muito menor, com menos habitantes também nas cidades.

Claro, mas as favelas começaram logo depois da República, com todo o caos e desordem política e social causados pela República. O governo do Brasil tinha um desenvolvimento ordenado e passou para um desenvolvimento desordenado, o que criou diferenças e uma série de questões que deram origem às favelas.

A monarquia no Brasil seria como na Grã-Bretanha em que a rainha não detém o poder político para decidir os rumos do País, mas com função cultural e até certo ponto diplomática?

Não devemos fazer o mesmo erro que foi feito no dia 15 de novembro de 1889, que foi copiar servilmente o modelo norte-americano. Nós tivemos um passado monárquico fértil para querer copiar o dos outros. O Brasil era uma monarquia parlamentarista em que o poder executivo era exercido pelo primeiro-ministro. Havia Senado e Câmara dos Deputados eleitos pelo voto popular, pelo voto distrital, que era muito mais autêntico que o atual*. O poder Judiciário tinha sua independência garantida como é hoje em dia, mas era muito mais autêntico. E havia um quarto poder que era exercido pessoalmente pelo imperador que era o poder Moderador. Segundo a Constituição de 1824, o poder Moderador visava à harmonização dos demais poderes em função do bem-supremo da nação. Era uma monarquia parlamentarista em que o imperador tinha essa função, como é na prática nas monarquias europeias de hoje.

* A população não tinha direito ao voto naquele período (veja)

Na atual crise política, o que é que o imperador faria com esse poder Moderador?

Poderia por exemplo, num impasse político, dissolver o Parlamento e convocar novas eleições, como foi feito recentemente na Espanha.

E hoje o Brasil precisaria de novas eleições para o Congresso?

Se o povo fosse ouvido autenticamente, a situação seria completamente diferente.

O Brasil vive um momento de corte e retenção de gastos. A restauração da monarquia não traria mais gastos ainda?

Se há um ponto em que a República é um fracasso é esse ponto. Há um estudo que o palácio da rainha Elizabeth com todo seu esplendor custa menos à nação do que o Palácio do Planalto ao Brasil. O custo da República é colossal, sem contar os ex-presidentes que nós temos de sustentar, sem contar uma ex-presidenta, como ela gosta de ser chamada, que vive viajando às custas do Tesouro Nacional pelo resto do mundo. Outro aspecto é o custo das eleições presidenciais. Todo mundo sabe que custam à nação alguns bilhões de dólares.Então não venha me falar de custo da monarquia porque ela é incomparavelmente mais econômica do que a República presidencial.

Mas os presidentes são eleitos pelo povo. Não seria um privilégio a manutenção de um palácio real e benefícios para um imperador por mérito de nascimento?

Não é o que entendem as monarquias de hoje em dia. Saiu uma notícia essa semana com um ranking de felicidade entre as nações. Entre as dez primeiras, oito são monarquias. Você vai dizer que são países tradicionais, mas não, entre os primeiros estão Canadá, Austrália e Nova Zelândia, que são muito mais novos do que o Brasil.

E o senhor acha que tem uma influência da monarquia nesse quesito?

Evidente. As estatísticas provam isso. Essa semana também saiu o ranking do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), e também as primeiras nações são todas monárquicas.

Mas não teria mais a ver com a história desses países?

Não, porque a Nova Zelândia e a Austrália são bem mais novos do que o Brasil.

Mas o mesmo nível de desenvolvimento não se verifica em monarquias da África ou da Ásia, por exemplo.

Mas você vai comparar a cultura africana com a cultura ocidental? Ou com a cultura brasileira?

Mas estamos comparando a cultura europeia com a brasileira.

Não, estou comparando com a cultura que nós tínhamos no Brasil, e isso está comprovado nos livros de história, que era muito elevada. Os principais escritores brasileiros são do tempo da monarquia, os principais músicos, os principais pintores.

Qual a sua opinião sobre o foro privilegiado?

Eu acho um absurdo que, nesse clima de Lava Jato e “mensalões”, os corrompidos estão presos e os corruptores estão soltos.

A quem você se refere? Estão soltos por causa do foro privilegiado?

Eu tenho lido nos jornais que a maioria dos casos de foro privilegiado acabam sendo prescritos pelo tempo. Está nos jornais dos últimos dias. Contra fatos não há argumentos.

O foro privilegiado acaba sendo um privilégio não merecido?

Me parece que sim. Não há um país com tanto foro privilegiado como o Brasil.

Restabelecer a família imperial não seria também um privilégio não merecido?

Não vejo por quê. Uma família imperial existe para servir à nação, e não servir-se da nação, como nós vemos hoje com os políticos.

E a família imperial não fez a mesma coisa? Que garantia se tem de que faria diferente?

Que garantia então, se você quer… A história prova que é assim. Ninguém pode garantir absolutamente tudo. Mas historicamente, estatisticamente, está provado que é assim.

A nossa Constituição define o Estado como laico, sem influência da igreja. A monarquia no Brasil teria influência religiosa? Como funcionaria?

A maioria dos brasileiros são católicos. E o normal não é que haja uma confusão, mas uma troca de bons ofícios entre Estado e igreja, uma colaboração entre os dois.

Qual seria a prioridade do regime monárquico?

Em primeiro lugar, respeitar a livre iniciativa. Em segundo lugar, o respeito ao direito de propriedade. E o terceiro princípio seria o Estado fazer só o que o conjunto da nação não for capaz. Deve haver Estado, mas quanto menor, melhor, porque o Estado é hoje um cabide de emprego, um verdadeiro paquiderme estatal, lento, pesado, corrupto e que acaba atrasando o progresso da nação. O Brasil está nesse estado porque foi saqueado, bilhões de dólares foram desviados, por um governo que tinha clara intenção de fazer um país socialista, e foi contra isso que os brasileiros se levantaram em 2016.

Esse não é um movimento oportunista, em razão da atual crise política?

Meu deus do céu, se há uma coisa em que não há oportunismo é isso, foi uma coisa espontânea. Que interesse tem um gaúcho, um cearense, um amazonense em sair com a bandeira do império durante as manifestações? Ele não vai ganhar nada, pelo contrário, ele está manifestando seus desejos para o futuro do Brasil. Aliás, como as manifestações do ano passado, que foram espontâneas, não foram pagas com sanduíche de mortadela.

O senhor comentou sobre o Brasil ter uma maioria católica. Então, como um país de maioria negra, o Brasil deveria ter um imperador negro?

Mas, mas, o país não é de maioria negra. O país teve uma miscigenação extraordinária, e todo brasileiro tem um pouco de sangue branco, um pouco de sangue negro e um pouco de sangue índio. E uma das bênçãos desse país é a miscigenação, porque nós fomos somando as qualidades dos vários povos que aqui se encontraram.

Mas a família real não se miscigenou.

Como não? Meu irmão [príncipe herdeiro D. Luiz de Orleans e Bragança] fez uma pesquisa recentemente e encontrou entre nossos ancestrais um ancestral negro.

Há ancestrais negros na família?

Havia um ancestral negro.

De quando? De antes de D. Pedro?

De antes de D. Pedro. Ele [o ancestral] tinha sangue negro, então tem sangue negro [na família].

O senhor votou em quem nas últimas eleições?

Desculpa, o voto é secreto.

O movimento apoia qual candidato para as eleições 2018?

A monarquia tem que ser necessariamente suprapartidária, porque ela é chamada a unir os brasileiros, e não dividir em posições partidárias, por isso, o meu irmão segue uma orientação de não apoiar nenhum candidato, mas sim mostrar quais são os grandes rumos da nação.

Qual a opinião do movimento sobre as reformas previdenciária e trabalhista?

Está provado no Brasil e no resto do mundo que o estado de bem-estar social é insustentável. Se não houver uma reforma, a própria previdência quebra. Isso nos países europeus, nos países mais avançados, no mundo inteiro. Não há estado que resista a isso.
Já a legislação trabalhista é excessivamente detalhista, e o maior prejudicado são os trabalhadores. Não há empresa, ninguém tem a possibilidade de respeitar a legislação trabalhista até seus últimos detalhes. E a reforma fiscal também é indispensável, com redução da carga tributária

Os detalhes da legislação trabalhista não são para proteger o trabalhador?

Não, não protege nada. Pelo contrário, prejudica. Isso está provado, leia os jornais. Veja a realidade, analise a realidade do país. Tem detalhes demais. Querer prever tudo? É impossível. Prevê absolutamente tudo, nos menores detalhes. O tipo de piso que tem de ter no refeitório, a grossura do colchão, como [ter] obrigatório no Brasil inteiro um colchão de tal tamanho. Olha, no Nordeste, o pessoal dorme em rede. Eu conheço um jurista de alto nível que, quando vem ao Sul, a penitência dele é que no hotel não tem rede. Quem conhece o Brasil sabe que essa é a realidade. Não vai se impor a todos o mesmo tipo de cama, o mesmo sofá, o mesmo tipo de uniforme. Isso é socialista. Isso é tirania.

Hoje temos alguns avanços na sociedade que não existia no tempo do império, como o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a possibilidade de adoção por esses casais. Como a monarquia enxerga esses avanços?

Eu não considero que são avanços. Deus criou o homem e a mulher. Eles são diferentes e um complementa o outro. Na nossa Constituição está definido que o casamento é entre um homem e uma mulher, e eu sou a favor que se mantenha o que se está na Constituição.