“O Prestígio que sobreviveu ao golpe”

 Um dos blogs que visito frequentemente é do Círculo Monárquico do Rio de Janeiro. Hoje, postaram a seguinte matéria:

D.Pedro II: “O Prestígio que sobreviveu ao golpe” ou “Quando a História não reverenciou os vencedores”

Neste mês que deveria ser todo dedicado a D. Pedro II, não posso deixar de publicar tudo de bom que encontrar sobre nosso Imperador, que foi talvez de todos os monarcas do mundo “o  mais amado e paradoxalmente injustiçado”. A maioria de nós já ouviu a seguinte frase: “A História contada é a história dos vencedores”. Mas o título deste artigo deixa qualquer brasileiro confuso e perplexo, pois no Brasil aconteceu exatamente o contrário: D. Pedro II é mais reverenciado do que qualquer presidente republicano.  Abaixo o artigo de José Carlos Sepúlveda, monarquista que atua no Brasil e em Portugal, de seu blog:
15 de novembro. Transcorre mais um aniversário do golpe republicano que pôs termo, em 1889, ao regime monárquico.

Desde os alvores do Brasil, a monarquia inspirara e guiara o processo de formação de nossa nacionalidade e de ocupação de nosso território; transferira a capital de Portugal para terras do Novo Mundo e aqui fizera florescer prestigiosas instituições; soubera igualmente realizar a Independência do Brasil, sem traumas nem violência.O Brasil, sob a coroa, alcançara grande solidez nas instituições políticas, unidade territorial invejável, benéfica paz social e racial, profícuo florescimento na cultura e reconhecido prestígio internacional.Bestializado, atônito e surpresoO tumultuado golpe republicano veio pôr termo a este processo histórico.Foi “bestializado, atônito, surpreso” que o povo assistiu à proclamação da República. A confissão é insuspeita e partiu da pena de Aristides Lobo, um dos principais articuladores do movimento republicano. Ainda hoje estes termos parecem adequados para caracterizar a reação de muitos diante dos desmandos da República. Quantos, por exemplo, no feriado de hoje, têm presente que se assinala o golpe republicano de 15 de novembro de 1889?Regime persecutórioA República enfeitara-se dos ideais revolucionários que haviam inspirado a Revolução Francesa – Liberdade, Igualdade e Fraternidade – e que constituíam o ideário de certo sectarismo político. Mas, em poucas semanas seus instintos libertários se tornaram liberticidas: criou a República um tribunal de exceção com a finalidade de julgar em corte marcial os que “conspirassem”, por palavras, escritos ou atos, contra a República. Uma atitude bem diversa da ampla liberdade de que gozavam os republicanos durante o Império. E, em 1891, a primeira Constituição republicana vedava qualquer proposta de modificação da forma republicana de governo (cfr. Armando Alexandre dos Santos, A legitimidade monárquica no Brasil, Ed. Artpress, 1988).A pretensa igualdade republicana gerou, ao longo destes 122 anos, uma oligarquia política, descolada dos verdadeiros anseios da Nação, que se aproveita do Estado para proveito próprio e para a manutenção de projetos de poder, por vezes de cunho autoritário.É paradoxal que, no dia em que se assinala o golpe de há 122 anos, o governo republicano já tenha perdido seis ministros e esteja a caminho de perder mais um, em meio a escândalos aviltantes.Uma princesa na Chefia de EstadoRessalte-se, de passagem, que o atual governo, num gesto patético de republicanismo, quis fazer gala, como novidade “avançada”, da presença de uma mulher na Chefia de Estado, a ponto de carimbar para ela o termo Presidenta! Memória curta a do republicanismo: há bem mais de um século, em uma época em que as mulheres viviam habitualmente longe da política, a Princesa Isabel, como Regente e futura Imperatriz, tivera papel marcante no coração da vida política brasileira, sendo responsável, entre outras coisas, pela Lei da Abolição da escravatura.Prestígio autênticoEm mais um aniversário do pesadelo republicano de 15 de novembro, convido os leitores do Radar da Mídia a ler trechos de um artigo, de autoria de Plinio Corrêa de Oliveira, publicado no jornal Legionário (28.jul.1946). O texto, sob o título Uma glória da Igreja, na História do Brasil, permanece atualíssimo e versa sobre as razões da popularidade que a Família Imperial conservou, mesmo depois da República. Fenômeno que, indiscutivelmente, se prolonga até nossos dias:

  • “A função social da família reinante é subtil, e difícil de definir. Nem por isto, deixa de ser muito real e importante.

    Para que tenhamos disto alguma idéia, é preciso considerarmos o exemplo inglês, a suma atenção com que a opinião de todas as camadas sociais e correntes partidárias acompanha os gestos e feitos da família real, e a importância que atribui a qualquer acontecimento que ocorra neste terreno.

    A família reinante deve, a um tempo, ser o espelho e o modelo do ideal familiar e social do país. Espelho, no sentido de que deve possuir do modo mais acentuado e autêntico, o que a mentalidade doméstica e social do país tem de típico. A família reinante deve ser como que a concretização simbólica do espírito nacional, no que diz respeito à vida social e familiar. Modelo, no sentido de que cabe à dinastia a função discreta de dirigir a evolução da mentalidade nacional, no lar e na sociedade.Munida do prestígio social inerente à sua categoria, pode a família reinante, sobre a qual convergem todos os olhares, por meio de seu exemplo, fazer cair em desuso os costumes menos bons, e os substituir gradualmente por outros, exercendo assim sobre o espírito público uma função pedagógica de imensa importância.
    Se investigarmos bem a fundo as razões da popularidade que a Família Imperial conservou, mesmo depois da República, veremos que reside em boa parte, no êxito de sua tarefa social. O velho Imperador, com a grande respeitabilidade de sua figura, seu porte grave e afável, sua longa barba precocemente encanecida,representava bem o tipo ideal do excelente pai de família brasileiro daquela época, coluna do lar, protetor suave e varonil dos seus. Os costumes privados do Imperador eram sabidamente excelentes. O Imperador era como que o tipo exemplar que concentrava em si as virtudes que cada brasileiro estimava em seu próprio Pai. O mesmo se poderia dizer da Imperatriz, Dona Teresa Cristina. Era italiana, da Casa de Bourbon Duas Sicílias. Adaptou-se a nosso ambiente com a naturalidade com que o fazem os de sua terra. Feia, boa, acolhedora, era ela mesma o protótipo da dama brasileira, algum tanto desinteressada naquele tempo dos encargos de representação, mas exímia em tudo quanto dissesse respeito aos deveres do lar. Todo o mundo, consciente ou inconscientemente, se sentia um pouco parente daquela família-tipo.

    Cabia à Princesa Isabel sustentar esta tradição, representar ela mesma a geração em que nascera,com a exatidão e fidelidade com que seus pais haviam logrado encarnar a geração anterior. Incumbia-lhe aliar à representação própria ao regime monárquico, a simplicidade de que os brasileiros sempre foram tão ardentes apreciadores. À delicadeza, essencial ao verdadeiro ideal feminino, a firmeza de pulso própria a uma herdeira da coroa. Em uma época em que as mulheres viviam tão arredadas da política que nem tinham direito de voto, ela, a Princesa Imperial, se encontrava bem no âmago da vida política, onde devia agir de modo a inspirar confiança aos homens, e evitar a antipatia das mulheres!
    Era uma popularidade pessoal, que lhe vinha de suas virtudes, vistas sobretudo deste ângulo fundamental: a Princesa soubera, ela também, encarnar perfeitamente o que havia de melhor entre as brasileiras de sua geração. Era o tipo da grande dama brasileira de seu tempo, nobre, maternal, bondosa, que sabia fazer-se respeitar, sobretudo pelo amor. “


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