Quando foi promulgada a Lei Áurea, Dom Pedro II se encontrava em Milão, gravemente enfermo. Fora atacado de uma pleurisia, complicada com febre palustre. Os médicos aconselharam a ocultar do paciente as notícias que chegavam do Rio diariamente.
A 22 de maio os médicos perderam as esperanças de salvá-lo, e declararam à Imperatriz que chegara o momento de chamar o sacerdote. O Arcebispo de Milão assistiu D. Pedro II, que após a confissão recebeu os últimos sacramentos da Igreja Católica. Ele estava de tal modo enfraquecido, que mal podia falar. A Imperatriz achou conveniente, então, informá-lo da grande notícia recebida no dia 13. Imediatamente seu olhar se reanimou.
— Não há então mais escravos no Brasil?
— Não. Votou-se a lei em 13 de maio. A escravidão foi abolida.
— Rendamos graças a Deus! Telegrafem imediatamente à Isabel, enviando-lhe a minha bênção com os meus agradecimentos à Nação e às Câmaras.
Depois, voltou-se ligeiramente. Os que o cercavam julgaram que estivesse moribundo. Mas seu patriotismo deu-lhe forças para pronunciar estas tocantes palavras:
— Grande povo! Grande povo!…
E correram lágrimas de seus olhos.
A alegria profunda que sentiu, ao saber que todos os seus súditos seriam livres para o futuro, produziu em todo o seu ser uma comoção eficaz e salutar. Desde então se acentuaram as melhoras. Aos poucos desapareceu o perigo, e ele não tardou a restabelecer-se.
– XAVIER, Leopoldo Bibiano. Revivendo o Brasil-Império. São Paulo: Artpress, 1991. p. 88-89.
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