Físico retrata relações entre d. Pedro 2º e professor de ciência

DE SÃO PAULO

D. Pedro 2º, imperador do Brasil de 1840 a 1889, criou laboratórios de fotografia, química e física, participou de academias de ciência da Europa e se correspondia com cientistas como Pasteur (um dos responsáveis por demonstrar que micróbios causam doenças) e Graham Bell (inventor do telefone).

A paixão desse membro da família real brasileira pelas ciências é conhecida dos historiadores. Mas os bastidores do desenvolvimento científico de d. Pedro 2º costumavam passar batido.

Foi nesse universo pouco explorado que o historiador e físico Adílio Jorge Marques se debruçou ao escrever "O Professor do Jovem Imperador" (Ed.Vieira&Lent, 2010).

Nesse trabalho investigativo, Marques trouxe à tona um personagem pouco conhecido na historiografia do Brasil e de Portugal: o naturalista Alexandre Antonio Vandelli.

Ele foi professor de ciências de d. Pedro 2º e, posteriormente, de suas filhas, servindo a família real por mais de duas décadas.

"Levantei todas as folhas de pagamento da família real, e o nome de Vandelli aparece de 1839 a 1862 [ano de sua morte]", diz Marques.

Editoria de Arte/Folhapress

CAMINHO CIENTÍFICO

Vandelli saiu de Portugal rumo ao Brasil na época do período regencial (1831-1840). Aqui, deu continuidade às suas atividades científicas –muitas delas necessitavam de aprovação de ministérios da época.

Um dos ministros, Bernardo de Vasconcelos, criador do Colégio d. Pedro 2º, convidou Vandelli para fazer a seleção do material de ciências da instituição.

Essa foi a ponte para que o naturalista se tornasse mestre de d. Pedro 2º e da família real já no ano seguinte.

A relação intelectual de aprendiz e mestre está registrada no material didático de d. Pedro 2º, onde Marques encontrou anotações minuciosas de Vandelli. "Na adolescência, d. Pedro 2º já tinha uma tendência natural à erudição", diz.

O clima entre os dois era muito amistoso, tanto que o professor do imperador participava de todos os eventos que aconteciam na corte, mesmo sem ser nobre.

Até a realização da pesquisa de Marques, feita inicialmente para sua tese de doutorado na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), não havia artigos científicos ou livros que tratassem do trabalho de Vandelli.

Em Portugal, explica o historiador, há uma espécie de resistência sobre a família Vandelli. Há quem diga que eles teriam colaborado com a invasão de Portugal por Napoleão Bonaparte –a mãe dele tinha origem francesa.

"Mas qualquer família portuguesa que tinha ligações com a França foi crucificada nesse período", diz. "A ideia foi levantar a obra de um personagem importante que ficou no limbo." Não há nem mesmo registros de sua imagem.

Marques também tentou mostrar que Portugal e o Brasil não estavam à margem do pensamento científico dos grandes centros naturalistas do mundo, como França, Alemanha e Inglaterra.

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