A História do Brasil em decomposição

MUSEU NACIONAL

A História do Brasil em decomposição

Quem vê a fachada do mais antigo museu brasileiro, o Nacional, da UFRJ, na Quinta da Boa Vista, no Rio, não tem ideia de quanto ele precisa de reformas urgentes. A fachada foi restaurada há três anos, e está um brinco, mas a parte dos fundos do Museu Nacional está aos pandarecos. Infiltrações (foto abaixo), esquadrias avariadas, banheiros precários. Só para citar alguns problemas.

Hoje, quando o museu completa 195 anos, a reunião anual com os servidores terá também informações sobre a criação de uma pré-comissão do bicentenário, que vai acontecer 2018. Esse grupo vai começar a estudar as prioridades para a revitalização de museu que tem simplesmente um dos maiores acervos de História Natural da América Latina. São 20 milhões de peças, das quais estão expostas menos de dez mil. Um terço das exposições está fechado por causa da falta de condições do prédio. Há seções inteiras longes da vista do público, como a de vertebrados. Há bichos empalhados no chão. Enfim, um museu maravilhoso, que está sendo esquecido pelos organizadores dos grandes eventos internacionais que o Rio vai sediar até 2016.

Para a reforma das atuais instalações a estimativa é de que sejam necessários R$ 135 milhões, não disponíveis no orçamento. Fundado em 6 de junho de 1818 por Dom João VI, com o objetivo de promover o progresso cultural e econômico do país, o museu integra desde a década de 60 a estrutura acadêmica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Na fundação, o museu ficava no Campo de Santana. A partir de 1892 passou a ocupar o prédio do Palácio de São Cristóvão, onde nasceu D. Pedro II e onde viveram as famílias real e imperial do Brasil. Dom João VI morou ali em 1808, ano da chegada da família real portuguesa. Após a morte de Dona Maria I, em 1816, Dom João mudou-se definitivamente para o palácio, onde ficou até 1821. Com o fim do império, em 1889, Dom Pedro II abandona o local às pressas, na calada da noite, lembra a museóloga e historiadora Thereza Baumann, que assessora a direção do museu. Os republicanos foram implacáveis com a memória do local. Logo após a saída da família imperial, trataram de leiloar todos os bens do palácio.

Dos anos dourados de Dom Pedro II no Palácio de São Cristóvão, restam salas imponentes como a do Trono, onde o imperador despachava, a dos Embaixadores e a da imperatriz Teresa Cristina. A coleção de arte Greco-Romana, trazida da Itália, a pedido de Teresa Cristina, é outra preciosidade do museu, que guarda relíquias como o maior meteorito brasileiro, o Bendegó; e a reconstituição da provável face de Luzia, o esqueleto humano mais antigo das Américas, já encontrado. A coleção egípcia do Museu Nacional é uma das mais antigas e importantes do gênero na América do Sul. Uma das joias é a múmia da dama Sha-Amun-Em-Su, do século VII AC, um presente dos egípcios ao imperador do Brasil.

A parte interna e lateral do prédio guardam tesouros escondidos do público, como dois jardins. O primeiro é um belíssimo jardim de inverno, onde o chafariz está desativado. Ali foi realizada a primeira Assembleia Constituinte da República, entre 1889 e 1891. O outro espaço é conhecido como o Jardim das Princesas, o playground de Isabel e sua irmã Leopoldina. Ali mesmo a mãe delas, a imperatriz Teresa Cristina, ornamentava os bancos de pedra e uma fonte com conchas e cacos de pratos de porcelana chinesa. A imperatriz provavelmente foi precursora da reciclagem no Rio. O terraço está abandonado e dá justamente para a parte do museu que será vista pela futura passarela a ser inaugurada para a Copa de 14.

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