Ação Monárquica Dom Rafael Império do Brasil

A FAMÍLIA IMPERIAL DO BRASIL – Frankfurter Allgemeine

dom rafael frankfuKaiserfamilie in Brasilien

31.07.2016, von PETER-PHILIPP SCHMITT

http://www.faz.net/aktuell/stil/kaiserfamilie-in-brasilien-wir-gehen-mit-dem-volk-auf-die-strasse-14346108.html

ENTREVISTA COM O PRÍNCIPE DOM RAFAEL

A FAMÍLIA IMPERIAL DO BRASIL

“Nós estamos com as pessoas nas ruas.”

O Brasil já foi um Império. Em tempos de instabilidade política, alguns buscam trazer a Monarquia de volta. Dom Rafael, tetraneto do Imperador Dom Pedro II (1825-1891), sabe como reinaria pelo bem de seu País.

Dom Rafael trabalha, há seis anos, na maior produtora de bebidas do mundo, a Anheuser-Busch Inbev [AmBev], inicialmente no Rio de Janeiro e, já há dois anos, em São Paulo. Entre os produtos produzidos pelo grupo, e consumidos no mundo todo, estão a americana Budweiser e a mexicana Corona, além de bebidas não-alcoólicas, com o brasileiro Guaraná Antarctica, produzido com as sementes da fruta amazônica de mesmo nome. Dom Rafael se formou em Engenharia de Produção pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, em 2010. Na AmBev, o jovem de trinta anos é o Pricining Manager, responsável por gerenciar os preços dos refrigerantes.

Há vinte e três anos, os brasileiros tiveram a chance de restaurar a Monarquia. Na época, Fernando Collor de Mello foi forçado a renunciar à presidência. O tio de Dom Rafael tentou convencer os brasileiros a votarem pela Monarquia. No fim, o resultado do Plebiscito foi: 86,6% dos votos pela República, 13,4% para a Monarquia.

A mãe de Dom Rafael, Dona Christine de Orleans e Bragança, é nascida Princesa de Ligne. A mãe dela, Alix de Luxemburgo, é irmã do antigo Grão-Duque Jean e, portanto, tia do atual Grão-Duque Henri de Luxemburgo.

[Frankfurter Allgemeine] Dom Rafael, como os seus colegas de trabalho te chamam? De Vossa Alteza?

[Príncipe Dom Rafael] Definitivamente não no trabalho. Lá, eu sou apenas Rafael. Oficialmente, alguns me chamam de “Königliche Hoheit”, “Sua Alteza Real”, em português; mas, na maior parte das vezes, apenas de Dom Rafael.

[Frankfurter Allgemeine] Seu nome completo é Rafael Antonio Maria José Francisco Miguel Gabriel Gonzaga de Orleans e Bragança e Ligne. É um monte de nomes.

[Príncipe Dom Rafael] Sim. Os nomes são parte de nossa tradição familiar e da nossa fé católica. Meu nome próprio é Rafael Antonio. Maria e José representam a Santíssima Virgem e São José; Francisco é o nome do meu padrinho, irmão do meu pai. Miguel e Gabriel, assim como Rafael, são os três Arcanjos. Orleans e Bragança e Ligne é a combinação dos sobrenomes de meus pais.

[Frankfurter Allgemeine] Como é a vida de um membro da Família Imperial do Brasil?

[Príncipe Dom Rafael] Eu levo uma vida bastante normal. Obviamente, tenho certas responsabilidades, e represento, regularmente, minha Família em eventos. Mas, de qualquer maneira, tenho que conseguir o meu sustento como qualquer outro brasileiro. E eu tenho um patrão, que me diz o que eu posso e o que eu não posso fazer.

[Frankfurter Allgemeine] Tradições familiares são importantes para o senhor?

[Príncipe Dom Rafael] Sim. Muito.

[Frankfurter Allgemeine] Atualmente, o senhor é o quarto na Linha de Sucessão. Seu pai, Dom Antonio, tem dois irmãos mais velhos, Dom Bertrand e Dom Luiz, o Imperador do Brasil por direito, Dom Luiz I, como alguns o chamam. Quando foi que o senhor se deu conta de que não é um brasileiro comum?

[Príncipe Dom Rafael] Quando criança, eu acompanhava meu pai em eventos. Assim sendo, eu cresci conhecendo a história da Família. Mas houve um momento na escola, do qual eu me recordo em particular; falávamos sobre a história do Brasil Império, e a professora me chamou na frente da sala e me pediu para falar sobre a minha Família. Aquilo não foi particularmente prazeroso, já que, obviamente, eu sabia um pouco mais sobre os meus ancestrais do que os outros alunos. Mas eu sempre fui tímido e, já naquela época, ficava nervoso ao ter que falar diante da turma.

[Frankfurter Allgemeine] Hoje em dia, o senhor tem que se manter determinado a falar bastante.

[Príncipe Dom Rafael] Sim. Especialmente no Encontro Monárquico anual, no aniversário do meu tio Luiz.

[Frankfurter Allgemeine] Quantos os irmãos o seu pai tem?

[Príncipe Dom Rafael] Sete irmãos e quatro irmãs.

[Frankfurter Allgemeine] De fato, originalmente, o senhor não estava destinado a suceder como Chefe da Casa Imperial.

[Príncipe Dom Rafael] Isso é verdade. Mas meu irmão mais velho, Pedro Luiz, veio a falecer em 2009, na queda do vôo Rio-Paris da AirFrance.

[Frankfurter Allgemeine] O senhor cresceu como o segundo filho, um tipo de Príncipe Harry do Brasil.

[Príncipe Dom Rafael] De fato, algumas vezes nós éramos comparados com os Príncipes britânicos, que são só alguns anos mais velhos. Mas eu também sei o quão a sério meu irmão levava a tradição. Mais de uma vez, ele me disse: “Você não pode deixar de levar a sério, você não sabe se algo pode acontecer comigo”. Meu pai me alertava para estar preparado para tudo.

[Frankfurter Allgemeine] O que mudou com a morte do seu irmão?

[Príncipe Dom Rafael] Subitamente, eu passei a estar na linha de frente. Especialmente nestes tempos de instabilidade política, em que se discute se o sistema presidencialista é bom para o nosso País, eu tenho que estar disposto a assumir as minhas responsabilidades.

[Frankfurter Allgemeine] O senhor vê isso como uma honra?

[Príncipe Dom Rafael] Sim. Mas, também, como um fardo.

[Frankfurter Allgemeine] Qual sistema de governo o senhor prefere?

[Príncipe Dom Rafael] Uma democracia parlamentar com uma Monarquia hereditária.

[Frankfurter Allgemeine] Assim como em muitos países europeus?

[Príncipe Dom Rafael] Exato. Um Imperador ou um Rei não pertenceriam a nenhum partido político ou grupo econômico. Ele seria completamente independente. Ele garantiria a continuidade e a ordem, enquanto um Primeiro Ministro, eleito pelo voto popular, cuidaria do Governo.

[Frankfurter Allgemeine] O senhor realmente acredita que o Brasil pode voltar a ser uma Monarquia?

[Príncipe Dom Rafael] Sempre existiram forças lutando pela Monarquia. Eu acredito que muito poucos brasileiros sabem que existe essa alternativa. Nós poderíamos, assim, retornar à forma de governo que existia anteriormente. O Brasil foi criado como uma Monarquia.

[Frankfurter Allgemeine] O que impede o senhor de entrar para a política?

[Príncipe Dom Rafael] Como político, eu perderia minha independência. Eu me juntaria a um partido ou criaria um partido. E o Monarca deve permanecer imparcial – especialmente na atual situação.

[Frankfurter Allgemeine] Seu tio, Dom Bertrand, estava presente nas manifestações contra Dilma Rousseff, que pediam o impeachment.

[Príncipe Dom Rafael] Eu também fui para as ruas. Mas nós não estávamos protestando contra Dilma ou Lula, mas contra a corrupção. É inaceitável, irresponsável e desrespeitoso como os governantes se comportam com relação à população. Eles não têm moral e ética.

[Frankfurter Allgemeine] A Família Imperial leva uma vida modesta; o senhor tem um pequeno apartamento aqui, no Itaim Bibi, e seus tios moram juntos em uma casa em São Paulo. O que aconteceu com as propriedades do passado?

[Príncipe Dom Rafael] Após Dom Pedro II ser exilado na Europa, em 1889, o Governo confiscou todas as propriedades. Há muito tempo, corre um processo na justiça, para reaver algumas propriedades; é, pelo que eu sei, a mais longa batalha legal do Brasil. Mas se tratam de um ou dois palácios, que não são muito grandes. Nós fomos criados para sermos modestos. Modestos como Dom Pedro II, que dizia que seu salário era muito alto; então, ele doava metade para a caridade.

[Frankfurter Allgemeine] Há dois anos, sua irmã mais velha se casou com um plebeu e, portanto, teve que renunciar ao seu título e direitos ao Trono. Como Príncipe do Brasil e futuro Chefe da Casa Imperial, o senhor deve se casar com uma Princesa de sangue.

[Príncipe Dom Rafael] Isso faz parte da tradição da nossa Família. Eu ainda estou procurando pela noiva certa.

[Frankfurter Allgemeine] Não existem opções no Brasil. O senhor terá de ir à Europa para encontrar uma esposa.

[Príncipe Dom Rafael] Isso é verdade.

[Frankfurter Allgemeine] Sua mãe descende da Família Grã-Ducal de Luxemburgo, sua avó era neta de Ludwig III, o último Rei da Baviera. O quão próximo o senhor é de seus parentes da nobreza européia?

[Príncipe Dom Rafael] Sou especialmente próximo dos meus primos de Luxemburgo e da Baviera. Somos amigos, mas ainda não tenho planos de me casar.

[Frankfurter Allgemeine] Na Europa, muitos Príncipes Herdeiros se casaram com plebéias. Por que sua Família permanece firme com relação a exigir casamentos dinásticos?

[Príncipe Dom Rafael] Porque faz parte da nossa tradição dinástica.

[Frankfurter Allgemeine] O senhor mudaria essa regra antiga, quando for Chefe da Casa Imperial?

[Príncipe Dom Rafael] Eu não posso dizer que mudaria. Precisaria do consentimento de toda a Família para mudar nossas regras dinásticas.

[Frankfurter Allgemeine] O senhor se sente forçado, por sua família, a fazer algo que não quer?

[Príncipe Dom Rafael] Não, não sou forçado. Meu pai acredita que devemos ser felizes, antes de tudo. Mas ele também diz que seria bom para mim e para o nosso País, se eu pudesse encontrar uma Princesa.

[Frankfurter Allgemeine] Esse seria parte do fardo ao qual o senhor se referiu mais cedo?

[Príncipe Dom Rafael] Sim, não é muito fácil.

[Frankfurter Allgemeine] Poderia ser uma Princesa alemã?

[Príncipe Dom Rafael] Talvez, por que não?

[Frankfurter Allgemeine] O senhor fala alemão?

[Príncipe Dom Rafael] Ein bisschen” (“um pouco”, em alemão). Estou tentando aprender.

[Frankfurter Allgemeine] Quais outras línguas o senhor fala?

[Príncipe Dom Rafael] Português, francês e inglês, e espanhol o suficiente para ser entendido.

[Frankfurter Allgemeine] Com que freqüência o senhor vai à Europa?

[Príncipe Dom Rafael] Antes de entrar para a faculdade, vivi por seis meses com minha tia, em Paris. Agora, passo minhas férias na Europa, todos os anos. Uma das minhas irmãs vive em Madri, a outra, em Bruxelas, onde mora a minha avó. Em meados de junho, eu fui ao casamento de minha prima, Alix de Ligne, na Bélgica.

[Frankfurter Allgemeine] O senhor é do Rio de Janeiro. O que pode ser visitado na cidade em apenas um dia?

[Príncipe Dom Rafael] Há tanta coisa. Você deveria pegar um táxi para a estátua do Cristo Redentor, no Corcovado, ir ao bondinho do Pão-de-Açúcar e, claro, você deveria ir a Copacabana.

[Frankfurter Allgemeine] O que há de tão especial sobre o Rio de Janeiro?

[Príncipe Dom Rafael] Os moradores do Rio, chamados de cariocas, têm um estilo de vida único. Principalmente com relação às praias e ao sol, todo carioca gosta de estar ao ar livre. Eles vão nadar em Ipanema, jogar vôlei em Copacabana e correr na Lagoa. Em São Paulo, a capital econômica do País, as coisas são bem diferentes; aqui, nós estamos trabalhando, gerando dinheiro e construindo carreiras. Uma ou duas vezes por mês, eu vou visitar meus pais, no Rio de Janeiro.

[Frankfurter Allgemeine] Como é viver em cidades onde os assaltos e homicídios são constantes?

[Príncipe Dom Rafael] Em São Paulo, eu não tive nenhuma experiência ruim; no Rio, já fui assaltado uma vez. Um homem queria meu celular, e eu o dei para ele. Foi isso. Mas é assim em qualquer cidade grande; você tem que estar atento a que lugar vai e a que horas. Em Nova York, você não anda na rua à noite, ainda mais no Bronx.

[Frankfurter Allgemeine] Como o número de crimes no Brasil pode ser explicado? Seria, principalmente, porque, no seu País, há alguns que são muito ricos, enquanto outros são muito pobres?

[Príncipe Dom Rafael] Não acho que seja por isso. A rivalidade entre ricos e pobres é mantida viva de forma artificial. Os brasileiros são um povo gracioso, que se dão muito bem. Ainda assim, é claro que os menos privilegiados têm direito a uma vida melhor; deve haver oportunidades iguais. No entanto, eu acredito que alguns nascem para conduzir, enquanto outros nascem para serem conduzidos. Mas dizer que nossa sociedade é dividida entre duas classes, e que os pobres são criminosos, está errado, em minha opinião.

[Frankfurter Allgemeine] Mas parece que muitos dos ricos por aqui são criminosos. O Brasil conseguirá por a corrupção sob controle?

[Príncipe Dom Rafael] Eu estou convencido de que sim. O que está acontecendo é pelo melhor para o País; ninguém acha que isso é ruim. Agora estão mostrando o tamanho real da corrupção, e as pessoas estão indo às ruas.

[Frankfurter Allgemeine] Mas, por outro lado, os protestos estão ocorrendo há anos. Antes da Copa do Mundo de 2014, centenas de milhares tomaram as ruas.

[Príncipe Dom Rafael] Mas não se tinha, provavelmente, a menor ideia do quão ruim a situação realmente era. Agora, pela primeira vez, chega-se a conclusões. Eu acredito que a corrupção em nosso País será cada vez menos tolerada, com o passar dos anos. E isso vai levar a menos corrupção – na política, mas também nos esportes.

[Frankfurter Allgemeine] O senhor está ansioso para os Jogos Olímpicos em sua cidade natal?

[Príncipe Dom Rafael] Ah, sim. Eu sou um grande fã do esporte.

[Frankfurter Allgemeine] O senhor vai aos estádios?

[Príncipe Dom Rafael] Vou tentar. Na Copa do Mundo, assisti a alguns jogos ao vivo.

[Frankfurter Allgemeine] Incluindo o 7 x 1 da seleção alemã contra a brasileira?

[Príncipe Dom Rafael] Não. Eu assisti esse pela televisão, com amigos. A cada gol da Alemanha, meus primos da Baviera me mandavam mensagens de texto, perguntando: “O que está acontecendo com os jogadores brasileiros?”

[Frankfurter Allgemeine] O senhor considera aquele jogo uma humilhação?

[Príncipe Dom Rafael] Foi realmente embaraçoso, mas o futebol é assim. O que nos surpreendeu foi como os alemães se comportaram; todos os jogadores foram respeitosos, havia piadas sobre o jogo, mas nenhuma animosidade entre as duas Nações. Entre o Brasil e a Argentina, no entanto, a rivalidade tem sido mais agressiva; tal como foi, por exemplo, na Copa do Mundo, quando Neymar foi gravemente ferido por um jogador colombiano, e os argentinos comemoraram abertamente.

[Frankfurter Allgemeine] O senhor joga futebol?

[Príncipe Dom Rafael] Todo bom brasileiro tem que jogar futebol. Eu jogo toda semana.

[Frankfurter Allgemeine] E o que mais?

[Príncipe Dom Rafael] Golfe, tênis e squash. Quando eu era pequeno, cavalgava com os meus avós.

[Frankfurter Allgemeine] O Rio de Janeiro está preparado para os Jogos Olímpicos?

[Príncipe Dom Rafael] Eu diria que estamos indo bem. Os brasileiros, comparados aos alemães, adotam uma postura mais tranqüila, quando se trata de planejamento e organização. Aqui, algumas coisas ficarão prontas a tempo, outras serão concluídas mais tarde; mas, no final, tudo vai ficar bem. Eu tenho certeza.

 

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